Tem muita vida no offline (nota extra)
15 dias longe das redes, perto de mim e sem a menor saudade do algoritmo.
É com uma satisfação genuína, um sorriso pra tela e ouvindo essa playlist delicinha que escrevo essa nota extra após 15 dias sem redes sociais. Q-u-i-n-z-e dias de muita vida no offline. Minha vida. E não outras vidas (que ainda são editadas).
Foram 15 dias menos ansiosa, me comparando menos, dormindo melhor, lendo mais, comprando menos, observando as coisas ao meu redor, vivenciando as dores e as delícias do tédio e tantas outras coisas que me fizeram tão bem (mas tãooooo bem) que decidi compartilhar um pouco sobre isso com vocês.
Antes de tudo, deixa eu contar o pano de fundo dessa decisão. Os últimos 9 meses (3 de projeto e 6 de obra) foram de muito estresse com a reforma e mudança pra minha casa nova. É serio. Eu não desejo obra e reforma pra ninguém (desculpem-me arquitetos, engenheiros, designers, pedreiros, pintores, etc).
Eu estava exausta física e mentalmente. Eu já acordava cansada. Nos meus treinos na academia, eu não conseguia render nem metade do que eu costumo entender como meu normal. E, diferente do que a maioria das pessoas faria nesse momento que é procurar um pré-treino para ter mais energia, eu logo conclui: “meu corpo e minha mente estão pedindo socorro. O que preciso fazer não é exigir ainda mais deles. Mas cuidar deles. Não sou uma máquina. E até máquinas param para manutenção preventiva e/ou corretiva”. Como meu marido também estava se arrastando, decidimos antecipar as férias.
Mas até as férias chegarem, eu percebi algo que me deixou ainda mais angustiada comigo mesma. Eu estava usando muito as redes sociais (quando eu falar redes sociais, entendam como insta e tico e teco - não tenho outras e não considero o youtube rede social como essas). Eu sabia que fazer isso era uma prova de que eu estava procurando saídas para o meu cansaço. Só que eu sei o quanto rolar o feed em excesso me faz mal. Além do que, como eu repito o tempo todo para as minhas pacientes (para quem não sabe, sou nutricionista comportamental): rolar o feed não descansa.

Além de não descansar, fazer isso me faz, particularmente, me sentir muito pior. Não são raras as vezes em que percebo um incômodo, uma chateação, uma raiva ou sei lá qual outra emoção e, quando paro um pouquinho tentando identificar de onde veio aquilo, noto que foi por algo que eu vi nas redes sociais. E aí eu me pergunto: "por que raios eu ainda tô aqui, perdendo tanto tempo de vida com algo que não está me fazendo bem?". Pode até fazer bem para não sei quantas pessoas, mas pra mim não faz. E não é de hoje que eu sei disso.
Passei a usar mais o insta quando comecei a criar conteúdo (naquela época em que todo e qualquer profissional autônomo se viu obrigado a fazer isso pra divulgar o próprio trabalho). E sim, além das indicações, muitas pacientes chegam até mim pelo insta. Sou grata por isso. Eu até poderia dizer que só isso me faz permanecer por lá desde 2017. Mas, na verdade, comecei obrigada… e depois descobri que eu gosto de criar conteúdo.
Por isso, nunca terceirizei o que eu posto lá como taaaannntos outros profissionais de saúde fizeram (e continuam fazendo). Cada letra que tá lá fui eu quem escreveu. Gosto de escrever. Gosto de refletir sobre alimentação e comportamento, falar dos livros que eu leio, dividir minhas experiências durante as viagens. Gosto da interação. Mas, de 2017 pra cá, o insta mudou muito e foi minando, aos poucos, o prazer que eu tinha em fazer tudo isso.
Lá em 2019, quando o insta ainda era legal e eu ainda sentia prazer em postar, já precisei de um tempo offline. Então aproveitei uma viagem de férias e fiquei 20 dias sem celular. Isso mesmo. Não foi sem rede social. Foi sem celular. Isso só foi possível porque viajei com o meu marido. Quando a gente precisava de alguma informação, mapa, Uber ou qualquer outro aplicativo, usávamos o celular dele (que não tem rede social — sim, ele é uma dessas espécies raras rs. Se não me engano, ele só tem o Twitter/X, e ainda assim usa pouco). Avisei à minha família e pessoas mais próximas que, se precisassem falar comigo, era no número dele. E pronto. Apenas vivi a viagem, 100% presente. Contei um pouco sobre essa experiência em um post antigo de um blog que eu tentava manter no meu site.
Já entre meados de 2021 e 2022, no auge da loucura e do pânico da pandemia, decidi não utilizar o insta. Foi um ano inteiro sem criar e sem consumir conteúdo por lá. Eu precisava muito desse afastamento pra digerir um monte de coisa que eu estava vivendo na minha vida pessoal e profissional. Foi maravilhoso. Mas, ao mesmo tempo, eu sentia como se eu não existisse. Muito louco isso. Voltei a utilizá-lo na segunda metade de 2022 porque, pela primeira vez em muito tempo, senti vontade real de criar conteúdo de novo (até essa vontade tinha sumido…. completamente). Voltei certa de que eu conseguiria equilibrar melhor o uso.
Não consegui. Me senti engolida pelo algoritmo. E aí, no meu aniversário em outubro de 2023, decidi passar uma semana em um hotel que na internet dizia que era um resort relaxante: o Hotel Ponto de Luz. Ele fica na Serra da Mantiqueira e oferece meditação e terapias, alojamentos tranquilos, piscina externa e refeições inclusas. Mas o que mais me atraiu foi isso: nos quartos não tem TV e nem acesso à internet. Era tudo que eu precisava para me reconectar comigo mesma. Foi uma experiência incrível (fiz até um reels contando um pouco, mas não quero abrir o insta agora para procurar e colocar o link aqui pra vocês. Sorry. Mas tá lá. Vocês conseguirão encontrá-lo rs). Voltei com a certeza de que ficar desconectada realmente me faz muito bem. E eu precisava trazer isso, de algum jeito, para o meu dia-a-dia.
Tentei. Mas, de novo, falhei. Dessa vez, além do cansaço que já contei lá no início do texto, percebi o quanto eu tinha sido engolida pelas redes sociais quando notei que eu não conseguia mais me concentrar para ler. Me distraía com muita facilidade. Mesmo deixando o celular em outro cômodo, eu não conseguia avançar nas minhas leituras. Precisava voltar as páginas. Quando me dava conta, estava pensando na morte da bezerra e não fazia ideia do que tinha acabado de ler. Então, decidi: ficarei alguns dias sem redes sociais nas férias. E, enfim, chegamos nas férias que comentei lá no início (desculpem a volta rs).
As nossas férias foram curtinhas. Só uma semaninha. Fomos para Mendoza - Argentina. Um destino que venho recomendando para adultos cansados rs A programação gira em torno de: fazer visitas guiadas em vinículas e olivículas, tomar muito vinho bom, fazer ótimas degustações e refeições incríveis harmonizadas com vinhos, flanar pela cidadela, tomar chá quentinho em um parque lindo (porque estava muito muito frio) e dormir. Tudo que nós precisávamos.
Se você que me lê também é um adulto cansado, recomendo rs Vou falar um pouco mais da viagem em si na próxima nota. Não perde, hein.
Aproveitei tudo isso focada no que eu estava vivendo no presente. Tirei fotos que não foram e não serão postadas. Consegui descansar física e mentalmente. Voltei com a energia recarregada.
Mas meu estômago ainda contorcia quando eu pensava eu voltar a utilizar as redes sociais. Não sei se já contei em algum lugar, mas eu confio muito no meu trato gastrointestinal rs Ele é o primeiro a me avisar quando algo não é bom pra mim. Sinto dores, naúseas. Meu intestino desanda. Com o tempo tô aprendendo a ouvir esses sinais. Então, voltei pra minha rotina pós férias, mas ainda sem redes sociais por mais uns dias.
Gente, foi muito bom. Porque descobri muita mini coisa boa na minha rotina. Foi bom não rolar o feed durante o descanso entre as séries da academia (o que me fez observar as pessoas treinando e ver que muitas precisam urgentemente de um personal antes que se lesionem rs). Foi bom ler outras newsletter em algum momento de espera (gostei muito dessa aqui). Foi bom experimentar o tédio em outros.
E aí, de novo, tô nesse ponto: como voltar a utilizar as redes sociais sem ser engolida por elas? Coommmoooo? Tô perguntando muito seriamente. Você que me lê, já conseguiu isso? Antes que falem, eu coloco limites de uso das redes sociais e os respeito na maioria dos dias. Quero respeitá-los mais. Mas não é só isso. Não sei se vocês conseguem me entender. Se alguém consegue, por favor, se pronuncie nos comentários rs Tenho certeza que tem outros millennials por aí sentindo falta de quando não vivíamos cronicamente conectados. Vamos conversar sobre isso, amigos.
Como falei, eu gosto de escrever e criar conteúdo. Mas não tô cabendo nas caixinhas das redes sociais para criar (e não tô suportando o excesso de tudo ao consumi-las). Por isso, criei o podcast, vim pra cá e tô pensando até em ir pro youtube (tô só pensando…). O que vocês acham? Eu gosto do youtube por causa dos vídeos longos (os shorts me irritam) e também porque lá me sinto mais no controle do que assisto. Vocês também gostam e se sentem dessa forma lá?
Fiz um tanto de pergunta ao longo dessa nota e espero, de verdade, que vocês me respondam nos comentários. Quero muito poder trocar mais com outras pessoas que se sentem como eu a esse respeito.
É isso.
Chagamos ao fim dessa nota extra que teve um formato um pouquinho diferente das outras <3
Se quiser me contar o que achou, vou adorar ler seu comentário. Prometo que leio tudo com calma (como espero que você tenha lido até aqui). Afinal, voltar a fazer as coisas com calma e intenção pode ser nosso combinado daqui pra frente.
Obrigada por estar aqui.
Um abraço procê e até a próxima nota.
Cibelle Magalhães
Como sempre, lindíssimo texto! Como é bom se identificar com pessoas e saber que não estamos sozinhos...
Ainda não encontrei meu ponto de equilíbrio com as redes. Comecei há pouquíssimo tempo a criar conteúdo, e está bem amador rsrs, mas tenho muita dificuldade, sinto como se parisse uma capivara todas as vezes... ao mesmo temoo que é empolgante, sinto um enorme peso pela responsabilidade de falar a tanta gente e, ao mesmo tempo, me sinto sufocada pelos excessos também e pela pressão da rapidez com que somos "obrigados" a nos posicionarmos sobre temas da vez. É um sentimento ambíguo o tempo todo ...
Que delícia de texto. Identificação total! Você escreveu por mim quando disse: “Mas não tô cabendo nas caixinhas das redes sociais para criar (e não tô suportando o excesso de tudo ao consumi-las).“
Estou em total crise existencial de redes sociais e consequentemente, para mim, humanas. Hahahahahaha
Vociferando aos quatro cantos Legião Urbana:
“Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante…
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três,
E esse mesmo Deus foi morto por vocês.
A humanidade é desumana…”